sábado, 18 de setembro de 2010

Multabitações

É... foi justamente quando o vento soprou forte lá fora, que eu percebi a sua maldade. Um demônio vestido numa couraça: a capa da moralidade. Se vestia de simpatia, mas a inescrupulosa fênix sabia da existência do demônio que habitava o coração dessa moça.
Pedi a Catarina certa vez que se arrependesse, mas que não se arrependesse de seu arrependimento. Ela me ouviu com o ouvido esquerdo e deixou minhas palavras escaparem pelo direito. Infelizmente não a convenci. Me sentia menor que ela naquela época. Achava que eu era malvada até conhecê-la : muito longe de ser uma mulher admirada por Dostoiévsk, porém bem próxima de ser alguma das vilãs do romance do escritor russo... uma lástima, era uma pena que uma moça com origem tão plural não se destacasse naquele nicho medíocre.
Um homem, desculpem-me, não consigo chamá-lo de homem, vou chamá-lo de rapaz: um rapaz como todos os outros, conquistara seu coração em pouco mais que um mês. Como foi possível conquistar o demônio que habitava dentro dela? Foi quando Lascívia gritou alto dentro de seu corpo juvenil:
- Não me deixe morrer dentro de ti, sou a única companheira que irá te fazer sentir jovem todas as noites e manhãs... quando me deixar fazer o papel do demônio que há ai dentro de ti, a malvada parte que lhe sucumbe! Essas palavras lhe pareceram tão sinceras que Catarina não teve como negar, vislumbrada pela Vaidade que assistia tudo de perto.
Sorriu por dentro, fingiu estar confusa por fora, mas era claro que estava apreciando com gosto aquela situação. Aceitou o rapaz. Jogou sua casta comprada por uma idéia comunista - ou pseudo-comunista- água abaixo; se cansou de ser quem não era e de vestir o manto da virgem maria. Na tentativa de fazer amigos, conheceu Medíocridade que há tanto tempo atuava em seu novo lar. Se corrompeu e continua se corrompendo mais a cada dia.

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