sábado, 28 de março de 2009

Viração amena

Uma hora dessas, estava clara e decidida sua concepção de amor, e mais claro ainda o que um homem ou uma mulher deveria ter como pré requisito para ler o Nietzsche , experiência cristã caótica, isso basta. E não me venha com Sócrates e Aristóteles uma hora dessas, agora não, pois acabei de devorar um talento vermelho e estou, apesar da dor na costas, me sentindo muito bem. Como não me enquadro muito bem nos padrões de beleza atuais, comecei a ler bem cedo coisas bem exacerbadas, e hoje compenso a minha baixa estatura e minhas pernas finas!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Meninas sem glamour... É isso que acontece com as Marias Madalena prendadas da vida!
Elas se desgastam nos tanques e perdem peso na beira do fogão de tanto suar, e as mãos a semana toda cheirando a alho. Isso não é pra ela, sorrateira, perspicaz e ativa, que não pára um minuto e vive andando de lá pra cá.. Justo ela que andava tanto pra ver o sol nascer, acordava as três da matina e ia até a Antena.se embriagava em um vinho de qualidade mediana, e dormia dez horas por dia. Lia Neruda como lia sua própria pena, e era o único que tinha prazer em ler em plenas férias calorosas de Janeiro, queria como uma menina de dez anos, viajar na aba de sua boina, ter visto de perto suas musas seus amores e rancores... E no fim da noite se a morte lhe visitava caía aos prantos debatendo-se no colchão de mola da tia velha solteirona. Diziam-lhe que se ela viesse a se casar com ele( ele que não é Neruda), seus filhos escreveriam aos doze anos sobre a teoria do caos. Mas o caos era pouco, o que ela queria era o vigor das samambaias, o energia do sol, e a alegria de Marília, sua amiga, uma flor.

E quando descalça andava pelo piso frio da casa, andando de lá pra cá, sem sono e com uma sede absoluta, sede de vento e de pureza. Mas de uma coisa ela tinha certeza, esperava nunca mais ser impregnada pela ignorância com que chegara àquele lugar, eu a via com toda clareza, como uma porta, adepta de uma sinceridade inadequada para aquele lugar. Hoje, ela aprendeu a ser cega, surda e muda. Enquanto a noite cai ela curte as aulas de Elzira Divina Perpétua.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ela queria, apenas naquele momento um tempo parado só dela. Ela resolveria sua tristeza e o mundo poderia retornar ao seu giro... Qualquer um, por pouco sensível que fosse, poderia passar perto dela e sentir o cheiro de putrefação, a putrefação da alma. Gozo em nada, mas em nada mesmo, nem nos mouses, nem na bebida, nem no esquecimento. Ela, não podia esquecer, não podia esquecer porque não podia esquecer dela mesma. E se fosse para vingar,teria de vingar de si mesma.
Era o fim da alegria de ontem, o término do bem estar do dia anterior. Tão simples de se resolver, mas ela não tinha coragem, sempre foi covarde, sempre andou de cabeça baixa pelos corredores, sempre olhava desconfiando até a própria mãe.
O cansaço impregnava seu corpo, ligeiramente feio e grosso, se observar bem. Seus olhos úmidos e caídos eram como a neblina na manhã escura e fria. Seu coração derretia, a cada palavra de ódio derretia, e cada palavra de amor derretia e a cada palavra áspera sangrava.
Hoje não lhe caía bem o vestido que se parecia com vitral de igreja, ela não podia só por hoje, reagir... Queria tudo, mas tudo, não era o bastante. Pedia então para deus mandar o seu anjo da guarda que havia se afastado dela por motivos injustos e inexplicáveis.
Queria um colo, colo de madre, colo da sensatez.

Tudo era dor, tudo cheirava mal.
A culpa era sua.

Queria uma caverna, mas amanhã com certeza iria querer sair de lá.
Se ela se matasse, amanhã certamente arrependeria de ter morrido.


O melhor era ficar estática
Sob a luz alheia e a compaixão dos outros


Seu nome: Inconstância