quinta-feira, 5 de março de 2009

Ela queria, apenas naquele momento um tempo parado só dela. Ela resolveria sua tristeza e o mundo poderia retornar ao seu giro... Qualquer um, por pouco sensível que fosse, poderia passar perto dela e sentir o cheiro de putrefação, a putrefação da alma. Gozo em nada, mas em nada mesmo, nem nos mouses, nem na bebida, nem no esquecimento. Ela, não podia esquecer, não podia esquecer porque não podia esquecer dela mesma. E se fosse para vingar,teria de vingar de si mesma.
Era o fim da alegria de ontem, o término do bem estar do dia anterior. Tão simples de se resolver, mas ela não tinha coragem, sempre foi covarde, sempre andou de cabeça baixa pelos corredores, sempre olhava desconfiando até a própria mãe.
O cansaço impregnava seu corpo, ligeiramente feio e grosso, se observar bem. Seus olhos úmidos e caídos eram como a neblina na manhã escura e fria. Seu coração derretia, a cada palavra de ódio derretia, e cada palavra de amor derretia e a cada palavra áspera sangrava.
Hoje não lhe caía bem o vestido que se parecia com vitral de igreja, ela não podia só por hoje, reagir... Queria tudo, mas tudo, não era o bastante. Pedia então para deus mandar o seu anjo da guarda que havia se afastado dela por motivos injustos e inexplicáveis.
Queria um colo, colo de madre, colo da sensatez.

Tudo era dor, tudo cheirava mal.
A culpa era sua.

Queria uma caverna, mas amanhã com certeza iria querer sair de lá.
Se ela se matasse, amanhã certamente arrependeria de ter morrido.


O melhor era ficar estática
Sob a luz alheia e a compaixão dos outros


Seu nome: Inconstância

Um comentário:

Paulo disse...

Ei Thay, lindo texto. Não consigo pensar em nada criativo agora, mas muito bonito mesmo.